domingo, 29 de abril de 2012

É licito gozar os bens que Deus deu, mas estes não podem satisfazer a alma


  Há um mal que tenho visto debaixo do sol, e que pesa muito sobre o homem:

  um homem a quem Deus deu riquezas, bens e honra, de maneira que nada lhe falta de tudo quanto ele deseja, contudo Deus não lhe dá poder para daí comer, antes o estranho lho come; também isso é vaidade e grande mal.

  Se o homem gerar cem filhos, e viver muitos anos, de modo que os dias da sua vida sejam muitos, porém se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é melhor do que ele;

  porquanto debalde veio, e em trevas se vai, e de trevas se cobre o seu nome;

  e ainda que nunca viu o sol, nem o conheceu, mais descanso tem do que o tal;

  e embora vivesse duas vezes mil anos, mas não gozasse o bem,-não vão todos para um mesmo lugar?

  Todo o trabalho do homem é para a sua boca, e contudo não se satisfaz o seu apetite.

  Pois, que vantagem tem o sábio sobre o tolo? e que tem o pobre que sabe andar perante os vivos?

  Melhor é a vista dos olhos do que o vaguear da cobiça; também isso é vaidade, e desejo vão.

   Seja qualquer o que for, já há muito foi chamado pelo seu nome; e sabe-se que é homem; e ele não pode contender com o que é mais forte do que ele.

   Visto que as muitas palavras aumentam a vaidade, que vantagem tira delas o homem?

   Porque, quem sabe o que é bom nesta vida para o homem, durante os poucos dias da sua vida vã, os quais gasta como sombra? pois quem declarará ao homem o que será depois dele debaixo do sol?


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